sábado, 2 de outubro de 2010

PREVENÇÃO DE RECAIDA (REINCIDENTE)

Depois que um dependente de drogas conseguiu manter-se abstêmio entre um e três meses, constata que o intento de superação da adição é um processo longo e complexo, onde logo surgirão as primeiras crises. O desenvolvimento de seus próprios recursos pessoais (intervenção individual), a pressão social da família (intervenção familiar) e o grupo de dependentes de drogas (intervenção grupal) lhe permitem, em grande parte, poder confrontar e resolver as primeiras crises, porem, desafortunadamente, muitos pacientes adictos não superarão estas primeiras crises e voltarão, oura vez, a "pendurar-se" nas drogas.
Recaída ou reincidência se define como qualquer retorno ao comportamento aditivo ou ao estilo de vida anterior, depois de um período inicial de abstinência e de mudanças de estilo de vida (no mínimo entre um e três meses). Litman e outros especialistas no tema, sugere que a recaída pode ser considerada de cinco maneiras diferentes:
    1. Como um evento discreto que se inicia com a volta ao consumo de drogas.
    2. Como um processo que de forma insidiosa conduz novamente ao consumo;
    3. Como o retorno ao consumo de drogas com a mesma intensidade;
    4. Como o uso diário durante um número especifico de dias;
    5. Como uma conseqüência do uso de substancias.
Talvez a definição mais operativa do que é uma recaída é a que nospropõe Chiauzi: " Recaída é o restabelecimento de uma conduta aditiva, pensamentos e sentimentos depois de um período de abstinência". Este período de abstinência pode variar consideravelmente... a recaída implica na interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. A contribuição especifica de cada um destes fatores num individuo certamente dependerá de sua historia de aprendizagem, seu funcionamento físico, sua predisposição psicológica e seu ambiente.
A recaída não deve considerar-se, necessariamente, como uma indicação da motivação que se tem, mas como uma falta que pode ser corrigida mediante um exame e mudando os fatores de risco individuais. Um retorno breve à conduta aditiva não deve considerar-se como uma recaída, a não ser que ocorra freqüentemente ou desencadeie num retorno prolongado à pauta de conduta aditiva.
Estes deslizes podem aportar sinais sobre os fatores biológicos, psicológicos e sociais que requerem uma avaliação mais detalhada. Por fim, substituir uma conduta aditiva por outra poderia considerar-se como um sinal potencial de deslize ou recaída.
Assim que, a recaída nas adições pode manifestar-se de diferentes formas: algumas vezes como o retorno ao estilo de vida antiga, outras na forma de consumo de drogas substitutas e/ou atividades de jogos de azar e risco ou sexualidade compulsiva, mesmo que, geralmente, a característica mais importante consiste em voltar a consumir de forma regular a droga característica de abuso. Estas manifestações de recaída podem dar-se de forma independente e/ou conjunta.
Em alguns casos de observa que muda, primeiro, o estilo de vida, e depois se dar inicio ao consumo de drogas; outras vezes, é o consumo esporádico, porem com um estilo de vida diferente ao de adito ou usuário.
De uma forma empírica se tem demonstrado que os estudos de acompanhamento realizados com dependentes de drogas põe de manifesto a elevada taxa de recaídas depois de finalizado o tratamento. Num estudo clássico, especialistas como Hunt, Bernett e Branch descobriram que aproximadamente sessenta por cento (60%) das recaídas em adição a heroína, álcool e tabaco aconteciam dentro dos três primeiros meses de acompanhamento, com uma aceleração negativa nas taxas de recaída até os 6 meses, alcançando uma estabilidade dentro de um ano.
Para estes profissionais, estes dados representam o processo de extinção que tem lugar à medida que a nova aprendizagem começa a decair ao longo do tempo. Ou seja, o tratamento implica na extinção das condutas aditivas aprendidas que voltam a ressurgir durante o acompanhamento.

MARCO TEÓRICO DA PREVENÇÃO DE RECAÍDAS
Marlatt define a prevenção de recaídas como Um programa de autocontrole desenhado com a finalidade de ajudar aos indivíduos a antecipar e a enfrentar os problemas de recaída na mudança das condutas aditivas. O modelo de prevenção de recaídas, desenvolvido de forma extensa por Marlatt y Gordon nos anos 80 no manual intitulado Relapse Prevention, considera as adições como um hábito adquirido que pode eliminar-se e/ou modificar-se aplicando os princípios de aprendizagem (aprendizagem clássica, operante e, fundamentalmente, aprendizagem social). A recuperação se considera como uma tarefa de aprendizagem onde o adito assume um papel ativo e responsável para alcançar o autocontrole.
Segundo este modelo, o processo de mudança ocorre em três fases:
  1. Assumir o compromisso de que o individuo quer mudar;
  2. Levar a cabo a mudança; e
  3. Manter a mudança alcançada.
Esta última fase se caracteriza pela aplicação dos procedimentos deintervenção cognitivo de conduta característicos do modelo de prevenção de recaídas, e não é só o mais longo e mais difícil, mas que também é a que se caracteriza por um numero maior de crises. Nossa concepção de prevenção de recaída consiste em manter e melhorar o processo terapêutico alcançado nas duas primeiras fases.
No caso de um dependente de drogas, se na hora de enfrentar uma situação de alto risco for capaz de manejá-la com eficiência, se produz um aumento da auto-eficácia pessoal e diminui a possibilidade de recaída.
No caso de que um individuo em tratamento tenha uma recaída, é possível que o processo que o levou a voltar a consumir se caracterize pela ausência de respostas de afrontamento, ou que as respostas necessárias estejam inibidas devido a níveis elevados de medo ou ansiedade. Também é possível que a situação não seja percebida como de alto risco, ou que o processo de mudança tenha ido se deteriorando de forma gradual.
Estes aspectos vão diminuindo bastante o nível de auto- suficiência do adito em diferentes situações de alto risco, bem como as expectativas de resultado de manejar com êxito uma próxima situação que implique dificuldade. A recaída é mais provável se o dependente antecipa alguns efeitos positivos para o consumo da substancia, que se baseiam em sua história previa do uso das drogas, ao mesmo tempo em que descarta os efeitos negativos a longo prazo. As expectativas desempenham um papel central no modelo de prevenção de recaídas.
Assim que, uma recaída pode começar na forma de pensamentos, sentimentos ou condutas que, materializando-se inicialmente num simples deslize, dão lugar a uma recaída completa. Podemos dizer que uma recaída pode ter inicio com a tomada de uma decisão aparentemente irrelevante (TDAI); Assim que, quando um paciente adota uma decisão desta classe, sem ser consciente do que está fazendo, está incrementando sua vulnerabilidade à recaída.
Por exemplo, um individuo que já leva 5 meses em tratamento e em abstinência, um dia, ao voltar do trabalho muda seu caminho habitual e decide passar por um dos lugares onde comprava droga e consumia quando era um dependente de droga. Neste caso, a escolha de um novo caminho é uma TDAI. Esta decisão, sem ser consciente, o colocou diante de uma situação de alto risco (que são situações de natureza intrapessoal e interpessoal que torna mais provável que um individuo em tratamento volta a consumir).
Ao passar por esse novo lugar pensa no "aviãozinho" que lhe vendia e onde costumava consumir; experimenta pensamentos débeis sobre os efeitos prazerosos do consumo ao mesmo tempo em que nota como a palma de suas mãos começa a suar e o coração bate mais rápido. Neste momento reconhece o risco e a iminência da recaída.
Ao passar de uma decisão aparentemente irrelevante a ver-se numa situação de alto risco, se produziu uma mudança ambiental considerável no processo de recaída. Entretanto, ainda está em tempo de corrigi-la se é consciente do que lhe está sucedendo e adota uma resposta de afrontamento, neste caso, voltando a tomar o caminho habitual. Se for assim, vai notar um sentido geral de auto-suficiência que faz com que o tratamento que está realizando seja mais eficaz ainda. Além disso, também vai aprender que a iminência da recaída pode ser modificada, desde que analise a situação de forma racional e dê uma resposta adequada de afrontamento.
Porém, se o individuo permanece na situação de alto risco por um período de tempo mais longo, vai começar a raciocinar o dilema de voltar a consumir depois de 5 meses com os seguintes pensamentos: "por tentar uma única vez não vai acontecer nada", "me sentirei melhor comigo mesmo se não cedo à tentação". Também começa a antecipar os efeitos positivos da substancia e pensa que se volta a cheirar de novo vai se sentir muito bem, com muita energia e vitalidade. Pensa que já não tem controle sobre sua conduta, o desejo de consumir é cada vez mais intenso, e como se seus pensamentos e sentimentos o estivessem colocando uma espécie de armadilha nessa situação.
Aqui também acaba de produzir uma grande mudança, como seja, o de esperar obter uns efeitos positivos com o consumo e, ao mesmo tempo, sentir que tem cada vez um controle menor sobre sua conduta. Estas mudanças o colocam no próximo passo no seu processo de recaída.
Se a partir dai não se produz uma intervenção, quer seja por iniciativa do próprio paciente ou pedindo ajuda a seu terapeuta, o individuo vai consumir cocaína. Uma vez que tenha consumido a primeira dose, no caso de não se fazer nada, o mais provável é que oculte e negue o acontecido, no caso de ser descoberto, e comece a consumir de forma contínua. E mais, o impulso de continuar consumindo o supera.
Neste caso esta se produzindo o que Marlatt definiu como o "Efeito de Violação da Abstinência". Este efeito tem alguns elementos cognitivos como a geração de uma dissonância cognitiva e de uma auto-imagem negativa, bem como a atribuição de uma incapacidade pessoal para superar a dependência da adição. Também tem outros aspectos, como o desejo reforçado por voltar a consumir.
    • O primeiro componente é a dissonância cognitiva que gera o voltar
a consumir. O sujeito experimenta a dissonância resultante em forma de conflito ou culpabilidade pelo que acaba de fazer. Este conflito interno tem um caráter motivador e faz que se empreendam condutas (ou cognições) que eliminem ou reduzam a reação de dissonância. Uma vez que a recaída tenha acontecido, caso continue consumindo, o sujeito, numa intenção por reduzir os sentimentos de culpabilidade, pode estar sendo levado por um reforço negativo (consumir para evitar estados emocionais negativos). Também é possível que o individuo tente reduzir a dissonância associada com o primeiro deslize alterando de forma cognitiva a nova auto-imagem (abstinente) para colocá-la em consonância com a nova conduta (consumir de novo).
    • O segundo componente é o efeito de auto-atribuição mediante o
qual o sujeito atribui a causa da recaída ao fracasso pessoal ou a suas fraquezas pessoais. É possível que em vez de considerar a recaída como uma simples resposta circunstancial, atribua a causa da mesma à falta de força de vontade ou â fraqueza pessoal. Freqüentemente as pessoas fazem conclusões sobre seus próprios traços de personalidade, atitudes e motivos quando observa sua própria conduta. Neste sentido, atribuirá seu fracasso a causas internas ou pessoais.
Quer dizer que, se o deslize for considerado como uma falha pessoal, a expectativa do individuo de que vai continuar fracassando seguirá aumentando.
    • O terceiro componente é o desejo reforçado pela volta ao consumo.
Estes três componentes se combinam para completar uma recaída completa. Nesta seqüência existem muitos pontos de intervenção.

DESENVOLVIMENTO DA PREVENÇÃO DE RECAÍDAS NO
CONTEXTO DA TERAPIA INDIVIDUAL, GRUPAL E FAMILIAR
Na terapia individual os procedimentos de avaliação e de intervenção se ajustam às necessidades de cada paciente, desenvolvendo um plano específico de atuação. Na terapia de grupo se analisam as situações e as condutas de cada um de seus membros de maneira que o deslize ou recaída de cada um deles pode servir para antecipar-se à dos demais.
O papel fundamental da família também consiste em antecipar o aparecimento de deslizes e recaídas, descobrindo mudanças que acontecem na forma de comportar-se como, por ex.; o tom da voz, a olhada, falta de objetos na casa, etc.
A. Prevenção de recaída em terapia individual.
Geralmente, a técnica mais importante para abordar um deslize ou uma recaída é a confrontação. A reação inicial do paciente costuma ser a negação ou o encobrimento, evitando assumir responsabilidades pelo fato acontecido e, mesmo depois de reconhecer o deslize ou a recaída, costuma atribuí-lo à causas externas. Na confrontação a presença da família é importante, para que possa aportar informação objetiva sobre os fatos que puderam ter dado lugar à recaída.
B. Prevenção de recaída em terapia de grupo.
A terapia de grupo está orientada à solução de problemas e à realização de tarefas para lograr a abstinência e a mudança do estilo de vida do dependente. Segundo este ponto de vista, alguns pacientes no grupo de dependentes de drogas assimilaram interiormente mais que outros o processo pessoal de deixar a droga, e isto faz com que possa confrontar com mais facilidade a negação e argumentação daqueles que caíram. Ao mesmo tempo, serve para reafirmar o processo terapêutico daqueles que servem de modelo para os demais.
C. Prevenção de recaída em terapia familiar
Geralmente, os pais com filhos dependentes de droga, não tem tanta facilidade em distinguir os sinais que levam um individuo a cometer deslizes ocasionais e a recair.
O objetivo consiste em ensinar aos pais, em grupo, a distinguir sinais que antecedem uma recaída e quais as condutas que são características da preparação e incubação da mesma.

AVALIAÇÃO DA PREVENÇÃO DE RECAIDA
  1. Avaliação das situações de alto risco.
    Para o modelo de prevenção de recaídas é fundamental a identificação das situações de alto risco. A avaliação destas situações pode ser feita preenchendo um registro sobre o dia e hora em que ocorre cada episódio de consumo de droga, circunstancia em eu aconteceu, tipo de droga consumida e a quantidade, especificando se havia outras pessoas presentes e se estas escavam consumindo. Para obter estas informações, se pede ao paciente que responda as seguintes perguntas:
    • Qual o principal motivo que o levou a voltar a usar droga
    • Mencionar quais os pensamentos e os sentimentos que tinha nesse momento e que desencadearam a necessidade ou o desejo de voltar a consumir.
    • Descrever qualquer circunstância ou conjunto de situações que te sucederam e que desencadearam a necessidade e/ou o desejo de consumir.
    O resumo, a avaliação das circunstancias de alto risco implica realizar uma mostra suficientemente ampla de situações susceptíveis de desencadear um deslize ou uma recaída al longo do processo de recuperação terapêutica. A identificação de situação de alto risco pode realizar-se a partir do momento em que o paciente tenha um mês de abstinência.
    Uma das formas de procedimento é a seguinte: a) se pede a cada individuo que faça um registro cada vez que tenha um forte desejo de consumir; b) se o paciente tiver dificuldade para fazer o registro (por ex.; no caso de um nível educativo muito baixo), o terapeuta durante as sessões de terapia individual realiza uma pesquisa sobre possíveis situações de alto risco que tenha acontecido ao longo da semana e vai anotando numa lista sobre "situações de alto risco"; c) cada vez que aconteça um consumo da principal droga de abuso e/ou outras relacionadas, mesmo que este seja mínimo, analisa-se a situação que o motivou, e d) análise da história previa de recaída.
    Uma análise pelo profissional permite determinar a natureza das situações de alto risco e sua evolução ao longo do tratamento, podendo, conforme as situações, adaptar o treinamento em estratégias de afrontamento, segundo as características deste tipo de circunstancias.
    Em muitos casos, a recaída acontece por uma serie de acontecimentos vitais que tem lugar na vida do paciente (por ex.: separação, perda do emprego, etc.). Se recomendam levar em consideração estes determinantes como possíveis fatores desencadeantes de uma recaída durante o tratamento ou no acompanhamento.
    Em Prevenção de recaídas é muito importante observar algumas situações de alto risco característico dos indivíduos em tratamento. Vejamos alguns:
    1. Movimento de dinheiro. Nas situações onde o paciente movimente suficiente dinheiro como para adquirir droga para consumo, é muito provável que com o passar do tempo volte a cair. Geralmente um adito necessita que passe muitos meses antes de que possa movimentá-lo sem necessidade de pensar na droga. Se uma pessoa passa por um lugar de venda de droga e tem dinheiro suficiente como para adquiri-la, certamente seu nível de desejo aumenta de forma considerável, e o mais provável é que inicialmente se produza um deslize e, caso não haja uma intervenção, uma recaída.
    2. Consumo de outras drogas. O consumo habitual de álcool e tabaco, assim como de outros fármaco psicoativos, determina outros fatores de risco mais importantes. Enquanto o paciente procure a sensação de "estar situado", é muito provável que as características da adição se mantenham inalteradas, substituindo a droga de abuso por outras até alcançar efeitos similares. Esta conduta de buscar alternativa dos efeitos da droga deve confrontar-se nas diferentes modalidades de tratamento que se propõe (terapia individual, grupal, prevenção de recaída e terapia familiar).
    3. Atividades de ócio com consumidores de drogas conhecidos. O adito pode manter a abstinência durante um mês ou mais, porém se suas relações interpessoais se dá com habituais consumidores de drogas , a recaída e o abandono do tratamento será uma questão de tempo. Neste caso, mudar as relações interpessoais é um objetivo terapêutico prioritário.
    2. Fatores de risco e sinais de aviso.
    Os fatores de risco e sinais de aviso aparecem sempre antes que o paciente recaia.Quanto mais cedo forem detectados e colocados de manifesto, mais fácil será adotar as medidas terapêuticas apropriadas e interromper a cadeia de eventos que certamente dão lugar a uma recaída.
    Pautas de pensamento e atitudes de recaída.:
    a) Atitudes negativas. Uma vez que um dependente de droga que tem uma historia crônica de abuso de drogas deixa de consumir, geralmente durante os dois primeiros meses de abstinência, experimenta uma serie de conseqüências positivas antes de que os problemas e o estresse da vida diária o afetem em cheio. Nesta espécie de "lua de mel", o individuo nega a existência de qualquer problema, sentimento negativo ou, inclusive, a possibilidade de recair. Uma vez que todos os problemas relacionados com a obtenção da droga (roubar, mentir e enganar para obter o dinheiro) desapareceram, neste período encontra difícil admitir que as dificuldades vão surgir novamente.
    Existe também uma serie de pensamentos e atitudes negativas que dão lugar à recaída. Por exemplo: Comportar-se como um individuo que não consome drogas e pensar como um dependente de droga. Neste caso, o pensamento aditivo representa uma continuação do estilo de vida de dependência de droga; ou seja, o paciente pensa, sente e atua de forma aditiva, mesmo que não consuma drogas. Vejamos uma série de atitudes e pensamentos relativos com este aspecto.
    1. Ter dúvidas sobre o processo de recuperação. Esta atitude se caracteriza por uma série de expectativas relacionadas com a recuperação terapêutica no dia a dia. Quando esse tema é tratado na terapia, o paciente costuma responder: "Este não é meu caso", "Manter a abstinência durante estes 3 meses não tem sido tão fácil como eu pensava", "A partir de agora eu já posso controlar-me", "Creio que já superei o problema que eu tinha com a cocaína".
    2. Compaixão de si mesmo. "Por que eu tenho que ter este problema?", "Tudo me sai errado", Se um paciente se caracteriza por esta atitude, é possível que ainda continue submergido no mundo da dependência de droga. A possibilidade de que tente mudar é muito pequena e está sempre na iminência da recaída.
    3. Impaciência. "Vejo que minha recuperação é muito lenta", "Não seria melhor que eu me esquecesse do problema das drogas e fizesse minha vida de forma normal"?. "Este tipo de pacientes que se sentem, de certa forma, frustrados pela lentidão do programa de recuperação recai com facilidade".
    e. Manter uma atitude negativa e de insatisfação crônica. Os pacientes que consideram que a vida não tem sentido para eles costumam recusar qualquer tipo de apoio e/ou conselho, e o único que lhes produz satisfação é criticar as falhas e defeitos dos outros, ignorando os seus. Esta atitude gera um ambiente favorável para a recaída.

    3. Sentimentos e estado de animo negativos. Sentimentos crônicos não resolvidos de tédio, depressão, solidão, infelicidade, tristeza, ira, ansiedade e culpa, são precursores da recaída, bem como lembranças traumáticas. Deixar de consumir produz um vazio no individuo que dá lugar a sentimentos contraditórios e a uma alteração do estado de animo. Como controlar tudo isso, deve ser motivo de abordagem no programa de intervenção individual ou grupal.
    1. Idealizar o efeito da droga "estar situado". A situação de recaída aumenta se o paciente continua idealizando os efeitos que a droga lhe produzia e, de forma seletiva, só se lembra dos agradáveis (este efeito também se conhece como "lembrança eufórica").
    2. Estado de animo positivos. Não só os sentimentos e estados de animo negativos desencadeiam a recaída, mas também o sentir-se muito bem, ou num estado de ânimo positivo um pouco exagerado, gera um falso sentimento de segurança sobre o processo de recuperação. Quando um adito está neste estado pode crer que, para ele, é fácil controlar um consumo esporádico sem necessariamente de perder o controle.
    3. Problemas sexuais e de relações. Os problemas sexuais não resolvidos podem ser um fator que contribua para as recaídas. Está comprovado que no caso de consumidores de cocaína que não tinham relações sexuais sem usar drogas durante um período muito longo, costumam ter reações de medo e de ansiedade, que podem dar lugar a uma impotência transitória, ejaculação precoce ou um fracasso em chagar ao orgasmo. Neste caso, para prevenir a recaída é importante que estes indivíduos aprendam a desfrutar os sentimentos relacionados com a sexualidade e a intimidade sem necessidade de consumir drogas.

    Outros fatores de alto riscoExistem umas séries de fatores que afetam os pacientes que estão num programa de tratamento e é necessário analisar para prevenir possíveis recaídas.
    1. Presença de outros transtornos mentais. No caso de um individuo adito à heroína ou à cocaína pode coexistir mais de um transtorno mental. Assim que, não é difícil que se encontre transtorno de ansiedade e de animo que não são apenas conseqüências do problema aditivo, mas que existem com anterioridade ao mesmo. Caso estes problemas não sejam tratados, é possível que alterem a forma de pensar, o estado de animo do paciente e sua forma de comportar-se; as conseqüências da influência destes fatores costuma ser uma recaída.
    2. Eventos vitais. Diz respeito a mudanças importantes, de naturezas negativas e inesperadas, que desencadeiam uma reação de estresses exagerada e costuma dar lugar a uma recaída. Por exemplo, perder uma relação íntima significativa, perda do trabalho, morte de um ser querido, problemas econômicos. Também pode ser de natureza positiva como, por exemplo, uma promoção no trabalho que implique mais responsabilidades, nascimento de um filho, o inicio de uma nova relação.
    3. Permissividade familiar. Em muitos casos, o círculo familiar ou de amigos facilita a recaída do paciente ao relaxar as normas de convivência e ignorar os possíveis sinais de recaída que tem lugar na conduta do adito. Se o individuo sabe, por experiências passadas, que sempre que ocorre uma recaída os demais o apoiarão sem aplicar nenhum tipo de sanção, o mais provável é que volte a cair.
      Em resumo, ao longo do programa de intervenção na conduta, o terapeuta tem que realizar uma avaliação contínua dos seguintes aspectos:
      • Estado anímico negativo (depressão, ira, frustração, solidão, tédio, culpabilidade, cansaço);
      • Atitudes, pensamentos e sentimentos que desencadeiam uma recaída (desejo de consumir, impaciência, confiança excessiva, insatisfação, desejo de colocar-se à prova, sonhos, etc.);
      • Condutas de recaída (tomar decisões precipitadas, mudança no estilo de vida, etc.)
      • Outros fatores de alto risco (acontecimentos vitais importantes, transtornos mentais, etc.). O terapeuta deve registrar todas estas possíveis variáveis à medida que vão aparecendo e desenhar estratégias de atuação adequadas para prevenir possíveis deslizes ou uma recaída completa.
      CONCLUSÃO.A estratégia geral da prevenção de recaídas consiste em ajudar aosdependentes de drogas em situação de crise a ir mais além de um simples raciocínio intelectual de recaída, a conseguir uma aceitação interior do problema que lhes afeta e de suas implicações em diferentes níveis (pessoal, familiar, interpessoal, etc.). Esta é uma tarefa difícil, cujo êxito na sua execução pode ser determinante para que as estratégias de avaliação e de intervenção cheguem a incidir no processo de recuperação de cada paciente, produzindo mudanças duradouras e estáveis em seu processo de abstinência e de mudança de estilo de vida.
      A aceitação dos deslizes ou recaídas, pelo paciente, facilita a abertura e a possibilidade de utilizar as estratégias da prevenção de recaída com a finalidade de alcançar um maior compromisso por manter a abstinência e logros terapêuticos.
      Não se deve nunca perder de vista a possibilidade de recaída que tem estes indivíduos, não importa quanto tempo tenham estado em abstinência, quão motivados estejam e quão estáveis parece ser seu processo de recuperação. Ao longo dos anos de recuperação, a vulnerabilidade à recaída diminui de forma gradual, porém nunca desaparece por completo.
      No fundo, independente dos procedimentos de avaliação e intervenção em prevenção de recaídas se mantém o objetivo de alcançar uma mudança significativa no estilo de vida, nas atitudes, nos valores, na forma de pensar em si mesmo e no mundo, e como afrontar e solucionar os problemas no seu dia a dia. Como indica alguns autores, a recuperação terapêutica de um dependente de drogas quase nunca segue um processo linear, e sim é fragmentado, circular ou em espiral.

      BIBLIOGRAFIA E LEITURAS RECOMENDADAS
      1 – SMITH David E.
      Mind Drugs
      Mc Grow-Hill Book Company - USA – 1973
      2 - DUPONT Jr. Robert L
      Drogas de Entrada
      Editora Prisma – Mexico.
      3 – INABA Darryl e CHOHEN William
      Uppers, Downers, All Arounders (Physical and Mental Effects of
      Drugs of Abuse.
      Cinemed – Oregon – USA – 1989
      4 - SPAA
      Guia de Estudios y Capacitación
      Gobierno de la Provincia de Buenos Aires – Argentina
      5 - GOMEZ José Luis e ALVAREZ Ángel G.
      Conducta Adictiva
      Editora Debate – Espanha
      6 – ARNAU Domingo
      Apuntes para una mejor Prevención
      Gobierno de la Provincia de Buenos Aires - Argentina
      7 – CONCEIÇÃO Adaylton
      Prevención y Asistencia ( no I Congresso sobre Prevenção e Trata-
      mento de dependência de drogas)
      Ponta Del leste – Uruguay.

        SOBRE O AUTOR
      Adaylton de Almeida Conceição, nasceu no Estado da Bahia, realizou estudos militares na Marinha do Brasil, e no Rio de Janeiro realizou estudos de Psicologia e Filosofia, estudou teologia na Faculdade da SOCE no Rio de Janeiro, onde se graduou como Bacharel em 1975, em 1977 fez curso de Mestrado pelo Instituto Latino-americano de Buenos Aires, Argentina. Também possui formação acadêmica nas áreas de Psicanálise Clínica com especialização em Sexologia; Ciências Políticas e Estratégicas; realizou vários cursos na Escola Superior de Guerra, e ADESG. Possui formação em Prevenção de Drogas pelo DEA (Drug Enforcment Administration - Departamento de Drogas dos Estados Unidos da América).
      Exerceu o magistério em varias instituições no Rio de Janeiro e na Republica Argentina, onde foi Professor e Diretor do Instituto Rosário e do STEM.
      Publicou vários títulos, entre os quais: "Introdução ao Estudo da Exegese" (Editora CPAD), Introdução à Escatologia, Introdução à Sociologia, Introdução à Psicologia, Homilética, Introdução à Ética, Estudos de Sexologia I e II, (Ediciones Manantial-Buenos Aires).
      Exerceu atividades como Psicanalista na Clinica São José de Resende, Clinica Vanessa-Michele, e Terapeuta Familiar e Sexólogo na Clinica Pavlov do Rio de Janeiro.
      Participou de varias Comissões na CICAD - OEA (Comissão Interamericana de Combate ao Abuso de Drogas).
      Tem viajado por vários países participando de congressos e conferencias.
      Foi Presidente do Organizing Board da World Chamber for Human Development para a America Latina. Foi representante da Câmara Mundial para o Desenvolvimento Humano na Argentina e no Uruguai; Conselheiro e Assessor Geral da UNOY-Argentina ( UNITED NATIONS OF YOUTH - Nações Unidas para a Juventude), e Secretario de Assuntos Internacionais para o Mercosul na Câmara de Micro-Empresários. É o Diretor do Serviço Internacional de Prevenção contra Drogas da WCHD. Como jornalista, dirigiu o Programa jornalístico de Televisão "DIALOGO", pela Rede Multicanal de Argentina, para toda América Latina, e foi Debatedor do programa "Os Correspondes", pelo Canal Satelital CVSAT de CABLEVISION.

Um comentário:

  1. Achei muito pertinentes as colocações sobre o controle de recaídas. Como ex-dependente químico entendo que as orientações acima podem de fato ajudar muito a uma pessoa que está lutando contra o vício.

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